quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Arte II


Uma das várias diferenças que saltam à vista entre Portugal e Angola é que, aqui, ainda não há cadeias de megastores a dominarem sectores de actividade. Esqueçam os 2 supermercados Pingo Doce por freguesia (apesar do JES ser sócio, cá não há nenhum) e as dezenas de lojas Moviflor (há uma) e Worten. Contentem-se com a mercearia ou a loja do mestre marceneiro. E, outro pormenor engraçado (quando não nos calha a nós): os representantes das marcas automóveis têm tamanha ruptura de stock de peças, que um simples vidro ou um farol traseiro pode não ter estimativa de data de chegada ou sequer de preço! É aí que surge a figura da loja de peças genuínas para automóveis. Se são genuinamente novas, ou se o genuíno dono autorizou a sua venda, já é outro assunto.

E o que é que isto tem a ver com Arte? Porque é que o título deste post é Arte II? Simples. Havendo uma infinidade de pequenos negócios, não se encontram pela rua muitos outdoors (só os do sector bancário, de condomínios, de marcas automóveis, de bebidas e os do émepê-éle-á) nem reclamos luminosos. Para este comércio de bairro, quase basta um cartão e uma caneta, e o mais sofisticado que podem aspirar em termos de publicidade, é terem a fachada do estabelecimento decorada pela mão e pelo pincel de um mestre.



Leite em pó, papas, óleo de palma, arroz, insecticida...


Radiadores, faróis, correias, vidros, discos de embraiagem...


Televisores, aparelhos de ar-condicionado, fogões, frigoríficos, máquinas de lavar, mobílias de quarto e de sala... Pera lá, isto é a Conforama!!!


Preciso mesmo de dizer o que se vende aqui? Gelo!


Ainda não encontrámos da Eka nem da Sambila.


Reparações.


Tabacaria. Será que também se vende A Bola e se regista o Euromilhões?


Dei por mim a lembrar-me dos murais políticos que via por Lisboa quando era puto, na sobretudo na primeira metade da década de ’80 (como um do PCTP-MRPP no muro do IST, entretanto pintado de beje...), ou de outro de ’99, em homenagem ao povo de Timor Lorosae, perto da Embaixada do EUA em Lisboa (também destruído porque alguém se lembrou borrar aquilo com uma cor ranhosa).

Imagino que daqui a 10-20 anos esta arte publicitária também desapareça das paredes das pequenas lojas dos arredores de Luanda. O que é pena, porque ainda dão alguma alegria a uma cidade cujas cores dominantes são o cinzento-cimento dos musseques, e a cor-de-prédio-que-não-vê-tinta-há-34-anos.

3 comentários:

Afonso Loureiro disse...

Parece impossível, não apanhaste nenhum letreiro com gralhas!

André disse...

Bem apanhado sim senhor! Há pinturas que dizem mesmo tudo...e cativam o olhar!

Abraço

André disse...

Bem apanhado sim senhor! Há pinturas que dizem mesmo tudo...e cativam o olhar!

Abraço