terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Viabilidade, produtividade, mentalidade, mobilidade, e outras coisas que vêm com a idade


Angola é, a par com a China e com a Índia, um dos países com maior crescimento económico. Mas não se pode dizer que os efeitos da crise global não são notados por cá: pela primeira vez na última meia dúzia de anos, aquela taxa vai ficar abaixo da barreira psicológica dos... 10%. Uma contrariedade, portanto...

No entanto, frequentemente dou por mim a pensar que este crescimento podia ser ainda maior se a produtividade também o fosse. O que, para usar uma expressão tipicamente angolana, «é complicaaado». Não é só o porto entupido de contentores, que atrasa as importações de equipamentos essenciais ao funcionamento das empresas. Não é só a lentidão natural dos processos, provocada pela burocracia da administração pública, pela inércia colectiva, e pela sede de gasosas. Esses talvez sejam os factores mais visíveis e mais comentados pelos portugueses que passam aqui uma temporada. Mas há outros, que até pode ser que tenham menos peso, mas que também ajudam... a atrapalhar.

Ainda hoje não engoli que um país exportador de petróleo, por só ter uma refinaria, seja importador dos seus derivados. Pior, a estes, ao contrário de quase tudo o resto, a lei da oferta e da procura não se aplica: o preço é absurdamente baixo, apesar dos postos de abastecimento estarem sempre a abarrotar. Ora, a meia-horinha da praxe perdida na fila está garantida; quem não o fizer ao fim-de-semana, durante os dias úteis vai chegar atrasado ao emprego, sem qualquer remorso.

Algumas funcionalidades modernas, a que nos habituámos há mais de uma década, ainda não chegaram cá. Enquanto em Portugal se pode fazer o pagamento de serviços nas caixas multibanco, na internet, e a partir de agora até nas lojas com TPA, em Angola o pagamento da água obriga a ir à EPAL, o da electricidade à EDEL, o do telefone à Angola Telecom, e o da televisão ao banco, correndo o risco de o sistema informático estar em baixo ou de se terem esgotados os impressos. Felizmente a empresa tem um funcionário que, um dia por mês, trata de todos estes assuntos, mas e o resto dos angolanos, vai fazê-lo quando?

A mobilidade – ou a falta dela –, mais do que um simples aborrecimento, é um entrave. E já o é apenas pelo facto de não haver transportes públicos decentes, de muita gente usar o carro próprio, e das ruas não estarem preparadas para tanto trânsito. A recolha de lixo em hora de ponta dá uma pequena ajuda, mas a cereja no topo do bolo são os cortes de estrada para repavimentação sem aviso prévio, que desviam o trânsito para as ruas circundantes. No caso da zona do Prenda/Cassenda, os desvios são feitos para dentro do musseque, e os cortes de estrada são para tapar os buracos com baldes de entulho. Vale a pena, portanto. Ou então não...

2 comentários:

Anónimo disse...

Se Angola já usufruisse disso tudo, acho que não estariam aí apenas uns milhares de "tugas", mas alguns milhões e...isto aqui seria "um deserto"! :) Mas, lá chegará, digo eu.
Beijinhos e bom trabalho
Tia

Afonso Loureiro disse...

- O chefe acabou mesmo de sair. Só ele é que pode decidir.
- E quando volta?
- Não sei. Ele foi almoçar.
- Às 11?
- Sim, foi a casa.
- Mas hoje volta?
- Não sei, é melhor vir amanhã...