quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Vai faltar a maaassa!


Abrir uma torneira, não haver água e reagir com indiferença não é uma situação nova para quem viveu em Lisboa... no início da década de 80. Na verdade não me recordo – que diabo, na altura ainda tinha dentes de leite! –, mas recordo-me de ver lá em casa os dois bidões que os meus pais compraram para contornar a situação na altura. Com uma ressalva: aquela falta de água foi provocada por um boicote levado a cabo pelo Movimento FP25. De um modo geral, há décadas que abrir uma torneira nos centros urbanos lusos e só sair ar é uma situação pontual.
Lembro-me também de um tio meu, salvo erro numa noite de 1982 em que lhe apeteceu fazer uma piada, ter gritado para toda a rua ouvir «vai faltar a ááágua!», o que fez a minha mãe temer que o tomassem por membro daquele movimento. Ah, a doce irreverência dos 30 e poucos anos... :D
Agora é a minha vez de apregoar algo do género, não em relação à água, mas à massa. Não me refiro a carcanhol, graveto, pilim, cheta – essa já cá faltou há meses. Trata-se daquela que os nossos amigos italianos popularizaram, e sem a qual a diversidade da dieta alimentar em Angola, que não é a maior do mundo, fica um pouco mais comprometida.
O meu ponto de vista baseia-se no TRSA, Teorema da Ruptura de Stocks em Angola. Diz esta teoria que «todo o produto transportado pelos canais de distribuição é passível de esgotar por um período indeterminado, devido a complicações na logística nacional». Exemplos desta afirmação são os dísticos da taxa de circulação automóvel esgotados durante mais de metade do período em que deviam ser adquiridos pelos proprietários, sobretudo os do escalão mais baixo (sem comentários...), as cadeiras para bebés esgotadas durante o período de entrada em vigor do código da estrada em Abril de 2009 (idem), e casos avulso de diversos produtos alimentares mais ou menos banais, como atum em lata (que há uns meses atrás deixou de cumprir o seu dever de assiduidade nas prateleiras de inúmeras superfícies comerciais), natas em pacote (idem, mais recentemente) ou cogumelos de conserva (outro fenómeno de absentismo, desde há 5 ou 6 semanas).
Ninguém me tira da cabeça que estes episódios são uma cabala organizada pelos senhores do Porto de Luanda, certamente pertencentes à Confraria do Funge, contra a massa de atum! Estou certo que mais cedo ou mais tarde vamos assistir a uma ruptura nos stocks de cotovelos, espirais e esparguete. Escrevam isto.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Boas novas


Após meses sem publicar nada, trago um anúncio. Não é uma novidade para a família, nem para os amigos, nem para o pessoal da empresa que irá ter a oportunidade de mostrar o seu valor, mas é-o para quem só “contacta” connosco através do blog, e creio que é uma boa notícia para todas as partes: já está marcada a nossa saída definitiva de Angola. A da Paula, antes do Natal. Eu regressarei após as férias por mais dois meses, para que a sucessão fique completamente preparada. A pedido da dona da empresa, frise-se.
Para trás, fica o sentimento de missão cumprida, de ter contribuído um pouco para continuar a evolução de uma empresa angolana pequena e jovem. Ficam recordações de falhas em aspectos básicos provocadas por displicência, de complicações provocadas por jogos de interesses, de uma sociedade anárquica e pouco ou nada coesa, de stress constante. Mas ficam também pessoas que gostaríamos de levar connosco, para não termos de dizer «adeus». Principalmente a Lúcia e o Xavier. Que eles, as outras Lúcias e os outros Xavieres de Angola contribuam para melhorar o país. Devagarinho, que são poucos a remar para o sítio certo, e quase todos a remarem para o lado que interessa ao seu próprio umbigo.
E que um dia nos possamos reencontrar. De preferência, num país diferente.