domingo, 24 de agosto de 2008

Arrumar a casa

Os ocidentais que aqui chegam ficam impressionados e, muitos deles, incomodados com a quase anarquia que milhões de Luandenses foram reforçando, na sua ânsia de perderem o mínimo de tempo com aquelas coisinhas chatas do dia-a-dia, como respeitar filas, um duplo traço contínuo ou um semáforo vermelho, e atravessar a rua nas passadeiras.

A "arrumação da casa" angolana não se apoia apenas nas obras de grande vulto, como vias de comunicação ou infra-estruturas básicas, passa também por disciplinar a mole humana. Nas últimas semanas, algumas artérias assistiram à colocação de separadores centrais capazes de dissuadir o candongueiro mais atrevido (falta a Revolução de Outubro, caraças!), e surgiram igualmente barreiras para dificultar a vida aos peões que não atravessam nos locais devidos.

Mas tudo isto é secundário quando comparado com um problema de saúde pública: a atitude "despreocupada" com o lixo. A mensagem que se tem tentado passar é a evidente, e em linguagem que o povo entenda:



Não será uma batalha fácil. Há uns meses, ouvimos uma notícia de rádio, segundo a qual uma equipa de recolha de resíduos tinha limpo um bairro, e ao regressar dias depois deparou-se com um novo monte de lixo no sítio do costume. Os ânimos entre moradores e funcionários exaltaram-se, e levou na cara quem estava em minoria...

Além da preguicite não ajudar (tal como acontece aí no rectângulo na altura de separar vidros, plásticos e papéis para os ecopontos, não é?), muito boa gente mantém, com o lixo, a atitude de há décadas atrás, quando este se resumia a restos de frango (ou outros) e a cascas de frutas e legumes: atira para o monte e espera que ele desapareça. E ele, naturalmente, desaparecia. O problema é que as latas de refrigerante e embalagens de plástico não. Há umas semanas atrás, na procura do caminho para a Barra do Dande, acabámos às voltas no meio de um mercado de rua, cujo pavimento era composto por um suave tapete de chinelos usados e garrafas de plásticos espalmadas, ao ponto de não se ver o chão! É lógico que os comportamentos terão de mudar, ou as populações mais pobres, que acham natural terem os tornozelos atolados em lixo, em breve estarão atoladas até ao pescoço.

Não é a primeira vez que achamos que um dos aspectos que mais nos vão marcar nesta passagem extra-europeia, é aumentarmos a nossa consciência do que estamos todos (mesmo TODOS, à escala global) a fazer à nossa casa, varrendo o muito que fazemos para debaixo do tapete. É que o que temos visto é apenas uma amostra, e a população de Angola até é pequena...