A vida tem-me ensinado que nada é totalmente preto ou branco - a escolha de palavras não é inocente -, tudo se distribui de forma mais ou menos uniforme pelos tons mistos.
Temos a sorte de trabalhar com aquelas que são, provavelmente, das melhores pessoas de Angola. Vá-se lá saber porquê, a nossa chefe angolana já tem atirado o barro à parede para ficarmos mais do que os três anos combinados, a gerente angolana não quer falar nem pensar que «já só faltam dois anos e meio, até menos...», o nosso técnico (e, quem sabe, futuro gestor de projecto) angolano quer que eu e a Paula nos casemos em Angola segundo as tradições de cá, e a nossa técnica angolana quer que a Paula vá entrançar o cabelo com ela. Se calhar até sei porquê. Porque pessoas com abertura de espírito reconhecem que Angola necessita de acolher estrangeiros e receber fomação técnica destes. Claro que um país com dinheiro atrai oportunistas, mas as pessoas dotadas de inteligência são capazes de distinguir o trigo do joio. São pessoas com espírito crítico suficiente para, por exemplo, se queixarem dos exemplos de falta de civismo dos seus concidadãos, para admitirem que a Angola herdada do tempo colonial é mais "arrumada" do que a Angola pós-independência. Eles próprios, que conhecem o país desde que nasceram, o dizem. E certamente não são os únicos lúcidos e exigentes em relação ao seu país.
Depois, há os outros. Os que emprenharam pelos ouvidos e, como não têm capacidade para raciocinar e questionar, repetem por aí que «Angola tem petróleo e diamantes, logo não precisa dos estrangeiros para nada». São de tal forma nacionalistas, que rejeitam com arrogância uma crítica vinda de um estrangeiro, consideram que o país deles é o melhor do mundo, e atribuem as culpas das pequenas imperfeições aos estrangeiros, sobretudo ao «sacana do colono que levou tudo quando se foi embora». Abrem uma excepção para os operários chineses; esse até dão jeito para trabalharem nas obras, que dá muito trabalho. No fundo são iguais a uns certos meninos de extrema-direita, mas em versão mwangolé. Bem, tenho novidades para vocês: nem Portugal nem Angola são os melhores países do mundo. A culpa é dos interesses económicos, do políticos, e nalguns aspectos é do próprio povo.
Ora, desde há uns dias um destes exemplares tem passado pelo blog do Afonso e tem-no brindado com estas pérolas:
«Estás a começar a precisar mesmo é de uma lei 24/00.
Falas de mais num país que não é teu.Cospes na sopa que te tira a fome.Fala do teu portugalsito porque corrupção não te falta por lá.trabalha porque é para isso que és pago.
trago-te debaixo de olho.Cova da Moura»
«Vais mais depressa do que julgas porque te trago debaixo de olho.Nem os dardos te poupam mas deixa estar que não estás só.Já te arranjei boa companhia.Andam aí uns blogs de gente da tua laia que vao sentir o zunir nas orelhas e berrida pela certa que os pulas não gostam de maka como já aconteceu com os brancos tugas noutras horas.E foi ve-los bazar num bater de tacão fino.»
«Tenho andado a ver-te mesmo e a verdade mesmo é que já começaste a ser menos cabrão com os angolanos.Nada melhor que vos amaçar mesmo.Os pulas tugas metem logo o rabo nas pernas e ala que parar é Lisboa.
Mas há mais blogs do tipo dos teus.
vou lá zunir tambem!
juizinbho menininho!»
E hoje, quer no Aerograma, quer no Muamba, recebemos o seguinte comentário:
«Vão embora mesmo seus pulas.Não vão a bemn tem de ir mesmo a mal, ganham o kumbu aqui senão morriam de fome e ainda falam mal de Angola.Estamos mesmo a ser vigilantes nos vossos blogs.PQP»
Que comentários é que isto me suscita? Primeiro, é fácil de ver que alguém sem problemas de leitura teria percebido que nos meus posts tanto critico Angola, como lhe aponto méritos. Segundo, alguém com um mínimo de inteligência acredita que se feche um blog e principalmente que se abandone um projecto de TRABALHO (sabes o que isso é?) da dimensão daquele em que nos envolvemos, por causa de umas ameaças anónimas escritas atrás de um monitor?
Todos os dias me orgulho daquilo que temos ajudado a construir aqui e estou certo que, em menos de um ano, já contribuimos mais para este país do que muitos destes inflamados farão em toda a sua vida. Como já percebi que o texto é repetitivo e pobre em argumentos, próprio de quem tem um raciocínio limitado, não vou voltar permitir a entrada deste SPAM aqui no meu estaminé. Sim, os pulas não gostam de maka. Era suposto gostar da maka de Luanda?
Obviamente terei uma ou mais respostas tão cretinas como os comentários anteriores, à(s) qual (is) não poderei responder posteriormente porque o autor não fornece o e-mail e eu não o considero digno de um novo post. Por isso, deixo-lhe antecipadamente uma mensagem:
Gostas assim tanto do teu país?
ENTÃO DESENCOSTA-TE DA PAREDE E TRABALHA PARA O MELHORAR!
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