quarta-feira, 11 de junho de 2008

Ambiente


> A (de algo-que-nos-tem-feito-bastante-falta-nos-últimos-tempos)

Perguntava-me há dias o nosso colega o que deve trazer na bagagem, quando se juntar a nós no próximo fim-de-semana. Pois bem, cá vai a resposta: traz alforges com água! Traz um bidom! Traz a piscina do Lopes! Traz canos novos para a Ingombota, que os destas ruas devem ter dado o p... mestre! Então não é que, contra o que é habitual, agora que estamos numa altitude mais próxima de zero, é que a sacana da água se lembra de falhar dia-sim-dia-sim? Nos últimos dez dias nunca tivemos água nas torneiras por mais de 24 horas seguidas, o que é digno das emissões da RTP no início dos anos 80 - «pedimos desculpa por este programa, a nossa interrupção segue dentro de momentos». Ainda por cima, como nos primeiros dias o urso (eu) chegava a casa e, em vez de aproveitar enquanto a água ainda corria, ia enviar uns ficheiros para um cliente (porque a net caseira é mais rápida do que a da empresa), quando chegava à banheira, nas torneiras já só havia ar.

> C (de 5 de Setembro)
Já se sabia o mês, mas todo o país aguardava ansioso pela data exacta das eleições em Angola. Pessoalmente, só estávamos à espera de saber se seriam no início ou no fim de Setembro, para marcarmos as férias, e ao que parece não seremos os únicos. Na política e no futebol, nunca se sabe como reagem os adeptos que vêem a equipa rival marcar mais golos. Pelo sim pelo não, quem não liga a este jogo não quer estar perto do estádio.

> D (de Dinheiro)

Já o tinha referido há uns tempos, mas volto a dizer: o Kwanza não é nada prático. Há umas semanas dei por mim a pensar que, se fosse substituído por um "novo Kwanza", numa proporção de 1 para 100, Angola ficaria com uma divisa mais compatível com o custo de vida, e também com o principal termo de comparação, o dólar. Qual não foi o nosso espanto quando descobrimos que já foi feito algo do género por mais do que uma vez, e não foi assim há tanto tempo!

O problema não é só o baixo valor da moeda, é principalmente o das notas emitidas (as maiores que conhecemos são as de 2000). Um destes dias, aguardávamos pacientemente a nossa vez de pagar as compras do supermercado, e vimos que a família à nossa frente tinha uma despesa de cerca de 40000 Kz. Eis que a matriarca saca de um maço de notas de 2000 e de 200, e começa a entregá-las à moça da caixa que, pela expressão facial, ficou com a cabeça em água perante tamanha dose de papel. Para entenderem melhor, imaginem que vão ao supermercado e pagam uma despesa de 400€ com notas de 20€ e moedas de 2€... Imaginem também uma caixa multibanco cheia de notas "pequenas" e calculem em quanto tempo fica vazia.

> E (de Ecologia, Economia, Energia, etc)
Se há situações - trabalho, trânsito, pessoal que usa expedientes para obter uns rendimentos extra, ou que arranja desculpas para adiar os seus compromissos - em que encontramos vícios semelhantes em Portugal e Angola (com a ressalva de que os maus vícios estão mais vincados neste quadrado do que aí no rectângulo), por outro lado há aspectos em que não parece que estamos no mesmo planeta.

Em Portugal, à semelhança de outros países não produtores de petróleo, bastou um mês e uma subida brutal no preço dos combustíveis para o dia-a-dia ficar virado do avesso. A indignação dos particulares e o boicote às principais gasolineiras são até secundários, quando comparados com a greve de camionistas que pôs em causa a distribuição de combustível e alimentos. Desta vez, nem o futebol faz o povo esquecer a crise. Começamos a duvidar se, quando voltarmos ao país de onde saímos há escassa meia-dúzia de semanas, o vamos reconhecer. E, por um lado, ainda bem; a escalada dos preços é dura, mas a mole humana parece que só aprende a deixar de ser burra e esbanjadora quando tem "dores no bolso" (e alguns nem isso, veja-se o caso do pessoal que andou a fazer rateres como forma de protesto).

Num país em que a gasolina custa 4 vezes menos, a preocupação com o consumo e as emissões poluentes é ZERO! O parque automóvel é dominado por furgões com vinte anos e jipes de grande porte e alta cilindrada que, num pára-arranca infernal, gastam facilmente 20 litros por 100 Km. As falhas de energia são compensadas por um número indeterminado geradores que funcionam - adivinhem - a gasóleo. Já contávamos que aqui não existissem conceitos como separar lixo, apagar as luzes durante o dia, utilizar lâmpadas economizadoras ou pilhas recarregáveis, mas quando há dias demorámos 15 minutos para percorrer 200 metros, pesou-nos na consciência o mal que estávamos a fazer ao planeta. E, apesar de o sentimento de culpa nos ter feito desligar o carro até que a fila se arrastasse (o que ainda demorou), não pudemos deixar de pensar que aquilo de pouco servia, quando à nossa volta havia dezenas de motores a queimar combustível para nada. É bom saber que já não vai ser preciso esperar muitos anos nem ter muito dinheiro para ter um meio de transporte destes (basta uma garagem para o carregar à noite e 17000€ para o ir buscar ao Reino Unido ou à Suíça). Quando voltarmos, prometemos redimir-nos dos pecados que estamos a ser obrigados a cometer.

> F (de fins-de-semana e de feriados)
Primeira nota informativa: feriados que calhem ao domingo (o que aconteceu em dois fins-de-semana seguidos, recentemente) são gozados à segunda-feira. Antes que comecem os comentários, fiquem também a saber que a semana de trabalho em Angola é de 44 horas.

Ao fim-de-semana Luanda é outra. A operação começa na 6ª à tarde, quando se formam filas monstruosas para levantar dinheiro (antes que esgote, o que pelos motivos apontados atrás, não é difícil). De 6ª à noite até que o sol se põe no domingo, há decibeis no ar, Cucas nas gargantas (há dias vimos um pequeno grupo empurrando dois carrinhos do Jumbo com exactamente 28 paletes, ie 672 latas, ie 224 litros!), menos engarrafamentos, e menos pessoal a furar as filas e a pisar traços contínuos. Ora, se há menos prevaricadores, o critério da operação stop é quem-tem-cara-de-estar-com-a-carteira-cheia.

> F outra vez (de Fotos)
É já no próximo post, eu prometo...

5 comentários:

Lopesco disse...

Isto é que me espanta... COnheço esta alminha à já alguns anos, e não conhecia o jeito para a prosa...

Serás bom , também em outras coisas que desconheço? :D

André disse...

Boas descrição dos fins de semana. Escorrem litros de cerveja, pairam decibeis no ar e....praia!

peter disse...

as fotos que enviaste são de factos elucidativas do stress que se deve viver aí no dia-a-dia mas eu prefiro a nossa pacata cidade não lido bem com situações de stress.vou estando atento ás tuas publicações.um abraço até breve.

Anónimo disse...

o que me espanta é o seguinte:
porquê criticam e falam mal disto daquilo...então porquê q estão em Angola?
será da muamba?
será da banana?
ou será mesmo do moneyy??

RAD disse...

Caro Anónimo

Vamos cá esclarecer umas coisas: o meu tom está longe de ser bota-abaixo. Descrevo o que vejo como vejo.

E, respondendo à sua pergunta, para se estar aqui fazem-se concessões ao nível familiar e de conforto, por isso é ÓBVIO que se fosse para ganhar em Angola o que ganho em Portugal, não vinha. Há algum problema com isso?