quarta-feira, 29 de julho de 2009

Campeonato Provincial de Contornanço de Obstáculos


E agora, a nossa reportagem do desporto automóvel.

Terminou ontem mais uma etapa a contar para o Campeonato Provincial de Trial, disputado no traçado da Rua da Administração, no Bairro do Cassenda, preparada para o efeito pelas obras decorridas entre Fevereiro e Abril deste ano. Ao longo de duas semanas, registou-se mais de uma centena de milhar de participantes, nas classes TT e ligeiro, que, com bastante mestria, contornaram obstáculos de grau de dificuldade elevado a muito elevado, entre os quais buracos de grande diâmetro e profundidade assinalável provocados pelo desgaste do pavimento de terra aplicado há 3 meses, terminando a recta da meta com uma série de quatro caixas de visita sem tampa. Todos os inscritos receberam prémios “Kms extra para a vida útil dos amortecedores”, de valor proporcional à qualidade do percurso escolhido. O vereador do pelouro dos Desportos Motorizados da Administração Municipal da Maianga, em declarações à nossa reportagem, enalteceu o sucesso da iniciativa, cuja adesão do público e participantes excedeu as expectativas, ultrapassando o mediatismo do Campeonato de Decibeis em Motorizada. A via foi agora novamente cortada por tempo indeterminado, prosseguindo o Campeonato noutro local.


Por hoje é tudo. Não percam brevemente uma nova reportagem de outra categoria do desporto automóvel, «Campeonato Nacional de Esquivanço às Multas por Pretextos Forçados pela Polícia de Trânsito».

8 comentários:

Afonso Loureiro disse...

Estão a preparar a pista para as eliminatórias. Vão fazer uns morros altos e instalar uns quantos jacarés nas poças mais fundas...

André disse...

Monotonia é que não existe em Luanda, hã!? ;)

Ana Casanova disse...

Boa tarde,
linkei o seu blog no meu espaço porque gosto de saber tudo o que diz respeito á minha terra.
Não nego que se sinta impotencia perante milhares de situações mas sinceramente estar numa terra que lhe proporciona o tal bem-estar para um dia voltar ao seu País e só falar mal...
Será que é o meu sangue angolano a falar mais alto?
Falei com um amigo angolano e as obras a efectuar nessa rua, são de uma empresa portuguesa.Porque será que não dão conta do recado?
A mim doi-me que fale e mais ainda ver comentários como estes por aqui.
Tenho aí amigos portugueses que gostam daí estar. Como bem disse, quem está mal...
Cumprimentos, Ana Casanova

RAD disse...

Cara Humana,

Antes de mais, quero enaltecer a forma correcta como expressou o seu desagrado. Infelizmente não têm faltado manifestações menos agradáveis de desacordo.

Compreendo o seu sentimento. Faz parte da nossa natureza sentirmos apego pela terra onde nascemos e mágoa quando outros a criticam. É possível que eu também sinta algum desconforto se, por exemplo, um holandês criticar Portugal. O que não invalida que, dependendo do objecto dos reparos, lhe reconheça razão. E saber lidar com as críticas é essencial para corrigir as falhas.

Como escrevi num post recente, os olhos com que via Angola quando cheguei não são os mesmos de hoje. Nada me move contra a terra, nem contra as pessoas mais puras (as crianças, as mulheres, os mais-velhos, e até mesmo contra os homens que não passam por esta vida pendurados nos outros). Mas, à medida que os meses vão passando, o acumular de situações de falta de civismo, egoísmo, corrupção e esquemas movidos pelo dinheiro e pela preguiça vão-nos saturando. Contam os mais velhos de Angola e de Portugal que antigamente não era assim, ou pelo menos tanto. E nem preciso de recuar até “ao tempo da outra senhora”; aparentemente, a maior degradação da sociedade deu-se com a migração no período pós '92.

Esta rua é apenas uma entre muitas cuja circulação se vai degradando até ao ponto de se tornar quase insustentável. Neste caso, a nossa admiração é por se tratar de uma via que foi cortada sem aviso prévio, durante dois meses, e reaberta ao trânsito em condições piores que as anteriores. É perfeitamente plausível que tenha sido por incompetência da empresa. Posso dizer-lhe que a estrada Catete – Dondo, cujas obras de alargamento e pavimentação por uma empresa chinesa ainda estão longe de serem concluídas, já está nalguns troços a ser repavimentada pela má qualidade do trabalho inicial. Não seria a primeira vez que uma obra feita inicialmente por chineses seria corrigida pelos próprios ou por outra empresa.

Como escrevi há uns tempos, há quem veja Angola com olhos diferentes dos nossos, mesmo que se depare com situações ainda mais inconcebíveis. Quanto ao meu desconforto, posso assegurar-lhe que tenho ponderado muita coisa, e cada vez mais anseio pelo dia em que possa dizer que a minha missão de formar quadros angolanos estará cumprida. Não o poderia fazer de imediato, mas aos poucos o meu regresso vai ficando mais próximo.

Cumprimentos,
Ricardo Silva

Afonso Loureiro disse...

A empresa que está a fazer as obras nessa rua é brasileira, mas para o caso tanto faz.

Humana disse...

Boa tarde Ricardo,
agradeço a sua resposta que, acredite, me deixou um pouco menos magoada.Estava mesmo revoltada ontem e falei com vários amigos angolanos e portugueses que aí vivem sobre o assunto.Eu odeio injustiças e não gosto de falar sem saber do que se passa.Claro que a visão de quem ama é totalmente diferente e várias pessoas se sentiram como eu.
Não acredite que estamos cegos e não vemos o que está errado.Temos é muita fé que as coisas mudem porque Angola tem um enorme potencial e porque os Angolanos merecem.
Eu vim de Angola em Setembro de 79.Vivi o melhor e o pior aí mas era a minha terra.O que acha que senti quando aqui cheguei e me olhavam de soslaio e aos meus e nos chamavam de "tinhas" e brancos de 2ª?
Para mal dos invejosos nós tinhamos mesmo!
Só para que me entenda melhor, os meus avós foram para aí bem novos, a avó materna foi com 2 anos com os meus bisavós.Eram donos do antigo Hotel Luanda.
O meu avô paterno Casanova, era médico e por mérito e serviços prestados à comunidade tinha um quadro pintado pelo pintor Neves E Sousa numa das salas de honra da Camara de Luanda.
O nome Casanova ainda hoje é conhecido em toda Angola porque o meu tio-avô, seguido do meu tio mais velho e do meu pai eram pilotos.Toda a gente se conhecia num país que não é pequeno.O meu pai foi o mais novo pilotp português da época da DTA.Já depois da independencia, era o Comandante do avião do presidente Agostinho Neto e deu formação de Boeings nos estados Unidos a muitos pilotos que estão agora no activo.
As raízes são tão grandes e profundas que embora estejamos todos cá, o sonho de muitos de nós é voltar.O meu não morreu e tenho tentado de tudo.Não quero enriquecer.Só não vou porque sei que ainda não existem infra-estruturas que permitam ter aí uma criança com ensino especial que é o caso do meu filho mais novo.
Quem sabe um dia realize o meu sonho bem como tantos angolanos e tudo será mais fácil para nós e para vocês aqui.
Se não me sinto mais portuguesa, embora o seja e no colégio onde andava em Luanda todos os dias cantáva o hino de Portugal, foi porque a forma como aqui fui recebida me fez sentir assim.Sabe que os anos passam mas há coisas que nos marcam para sempre.
Já me alonguei como é hábito mas foi um desabafo.
Desejo-lhe as maiores felicidades e aproveite essas praias maravilhosas, olhe esse pôr do sol como não há igual...
Cumprimentos, Ana

Paula disse...

Olá Ana,
É a primeira vez que me sinto tentada a comentar este blog.
Sou a mulher do Ricardo e acompanho-o nesta aventura, tanto no papel de companheira como de técnica, colega de trabalho.
Quem conheceu Angola e Portugal de outros tempos conta que a “outrora província ultramarina” estava muito mais evoluída do que a “metrópole”, até mesmo nas mentalidades. Compreendo perfeitamente o sentimento que descreve em relação à sua chegada a Portugal. Também o Ricardo é casado com alguém que foi catalogada de “portuguesa de segunda”. No meu caso já o meu pai o era, mas à chegada, nem a minha mãe foi poupada aos comentários que, infelizmente até a própria família proferiu. Solução: adoptar a táctica dos cães e da caravana. Bastaram vontades e braços erguidos para que a vida se refizesse...
Nós na verdade não tínhamos muito, mas ainda assim, foi com mágoa que nos vimos arrastados deste lugar, não obstante os episódios menos agradáveis vividos em 74 e 75.
Cresci, não tanto com muitas memórias próprias (porque saí daqui ainda pequena) mais com memórias herdadas. O país que me descreveram era o lugar ideal para se viver.
Em 2003 tive a oportunidade, também a trabalho, de passar pouco mais de um mês no Lubango. Relutante, ponderei bastante o meu regresso em 2008, desta vez sabia que seria por mais tempo. Escondida entre muitas outras razões, a vontade de finalmente conhecer a minha cidade natal lá encontrou ponto de fuga e cá estamos.
Chegámos de peito aberto, conscientes das dificuldades mas decididos a ver para lá de imagens pré concebidas. E vimos. Conseguimos ver gente que nos acolheu e nos respeita, conseguimos ver amigos que guardamos num lugar muito especial do nosso coração (Lúcia, sabes que é verdade!), conseguimos ver gente sedenta de conhecimento e com quem trabalhar foi um prazer... mas também conseguimos ver outras coisas, tantas que um mero comentário de blog (que já vai longo) não me parece o local ideal para as expor.
Não quero ser do contra, e acredite que respeito muito os seu sentimentos, mas sinto-me na obrigação de a alertar que, se voltar, aos olhos dos rapazes da rua, dos polícias, dos funcionários públicos, antes de ser vista como angolana será vista como branca, e que a olharão como alguém que está aqui a enriquecer às custas deles, por mais absurdo que isso seja.
Angola mudou muito e concordo que este país tem muitas potencialidades, mas está minado, com engenhos muito mais destrutivos que qualquer mina anti-pessoal ou anti-tanque...
Vou continuar a sentir uma pequena revolta quando ouvir falar mal de Angola, mas agora, sabendo o que sei, tendo vivido o que vivi, vou ter de estender mais vezes a mão à palmatória. Na verdade eu não nasci aqui, nasci num lugar que noutros tempos ocupou este espaço.
Não posso estar mais de acordo com a máxima “quem não está bem...” e por tudo isto até já.

Paula

Ana Casanova disse...

Olá Paula,
li atentamente e sinto-me profundamente triste.Infelizmente o racismo existe e é de parta a parte.
Eu casei duas vezes e as duas com angolanos.O primeiro branco do Namibe e o segundo mulato de Luanda.
Só ao casar-me com o Alfredo o segundo marido tive tão perfeita noção do que era racismo.Senti-o na familia, nas pessoas que nos olhavam nas ruas, porque segundo o meu irmão mais velho, uma coisa é um branco com uma preta e outra é o estafermo do preto ficar com a branca.Entende?
Nos negros eu via um certo orgulho no olhar mas no seio familiar do meu marido muitas vezes ouvi a expressão "os brancos isto e aquilo".Também não gostava como é óbvio.
Acho que o principal nisto tudo é dentro das nossas possibilidades lutarmos contra este tipo de coisas.Eu sei que sou uma romantica e sonhadora mas luto com o que tenho.Falo! A boca ninguem me tapa e se taparem será de vez.
Apesar de tudo o que me conta e que acredito plenamente, continuo a querer voltar a essa terra onde vivi com os três partidos politicos em guerra dentro da cidade.Onde o meu pai tinha que ter uma metralhadora no quarto porque estava numa lista negra da Unita como alvo a abater por ser piloto presidencial.chegaram a tentar mata-lo no escritorio da nossa casa num predio da Avª Norton de Matos.Lembro-me das bichas infindaveis onde iamos buscar feijão com bicho e lataria russa e ovos que vinham quase todos podres.Nada me faz desistir deste sonho.
Estou sempre a receber noticias, fotografias e a falar com amigos e fico feliz com o que se está a desenvolver.Vou esperar que as coisas mudem.Olhe que aqui também não estamos a viver bem como sabe e não estamos em Africa...
Obrigada pela resposta e então até um dia.Felicidades aos dois.
Ana