terça-feira, 21 de julho de 2009

A 3 velocidades


Tendo em conta o que escrevi ontem sobre a agilidade com os processos decorrem em Angola, é possível que com o post de hoje eu vos pareça incoerente.

Quando cheguei a Angola, trabalhava 10 a 11 horas por dia, 7 dias por semana. Emagreci, enervei-me, ouvi família, amigos e colegas a trazer-me à razão. Cansado de estar a 200% num país onde a maior parte das pessoas não quer estar nem a 50%, fui reduzindo gradualmente o ritmo para níveis normais, ainda acima da média, mas sem esquecer que antes do trabalho está a saúde.

Há algumas semanas ri-me com imensa satisfação quando li uma opinião tuga, segundo a qual um comercial tem de ter o telemóvel ligado 24 horas por dia, 7 dias por semana. Ridículo, estúpido, e tremendamente absurdo. Não há situação absolutamente nenhuma que justifique esta disponibilidade. Deixem-se de cenários hollywoodescos: as empresas e organismos públicos da vida real não são a CTU nem os seus intervenientes são Jack Bauers. E mesmo o outro tuga que há uns meses estava todo vaidoso a mostrar-me o iPhone com o qual podia responder a mails do trabalho a qualquer hora do dia, por mais que uma vez demorou dias a responder aos meus. Isto de dizer que se faz é muito giro, cumprir é que é lixado…

Ontem, à hora de jantar, recebi 5 telefonemas no telemóvel do trabalho. Recusei-me a atender. Podia estar a ver televisão, a fazer o chamado amor, ou a fazer uma banalidade qualquer como cortar as unhas dos pés, era um direito meu. Era o meu horário de descanso, caramba. Esta manhã, às 7h30, começou mais uma série de 5. Devolvi a chamada quando cheguei à empresa. Era um estrangeiro em Luanda (obviamente!), que precisava de um documento com urgência (claro!). Mas de onde é que esta alminha tirou a ideia que eu lhe ia arranjar o documento entre as oito e as nove da noite?! E mesmo que o fizesse, o que raio ia ele adiantar àquela hora?!

Num país onde eu e os meus colegas temos envelhecido a tentar, durante as horas normais de trabalho, que os locais nos deixem de levantar entraves, e onde situações que deviam resolver-se numa semana se arrastam durante meses (chegou ontem ao escritório uma encomenda paga em DEZEMBRO, o que é completamente inconcebível!!!), há quem nos cobre soluções a horas que, perdoem-me a repetição do adjectivo, são absurdas.

Ou, como nos disse o nosso antecessor quando chegámos: aqui, o que é urgente demora imenso tempo, e o que não é urgente demora uma eternidade. Mas quando te pedem uma coisa, é para há três meses atrás.

Esta terra pifa os fusíveis à malta.

1 comentário:

Maria نعمة disse...

Não é incoerência...é adaptação!
Parabéns pelo blog com humor "cirúrgico"!