domingo, 11 de janeiro de 2009

«'Eroporto! 'Eroporto!»

O Aeroporto 4 de Fevereiro é vagamente parecido com algumas imagens do Aeroporto da Portela. Pelo menos, com as imagens a preto e branco...

É um edíficio baixo, com a traça rectilínea dos edifícios do Estado Novo, ainda com os néons e os «caixilhos-e-laminados» originais. Grande QB para o volume de passageiros dos tempos coloniais, e provavelmente também para o volume dos anos de guerra. Já para o tráfego actual - desculpem-me a sinceridade, mas - parece-me escasso. Balcões de check-in são perto de dez; basta que haja dois voos em check-in, mesmo que a partida tenha duas horas de diferença, para se formarem filas de dezenas de metros. E, com a terceira e última apresentação do passaporte (para quê?) antes da sala de embarque, a escassos metros da entrada das salas de declaração de valores, é facílimo estas duas filas cruzarem-se na perpendicular. Não é de espantar que os voos partam com atraso...

No Aeroporto, à partida de um voo para Lisboa, sobressaem 4 grupos. Os funcionários dividem-se entre o atendimento, com ar carrancudo e desconfiado, e o encaminhamento, com ar desconfiado e altivo, dos passageiros. O ar carrancudo é imagem de marca de qualquer funcionário angolano que esteja no atendimento ao público. A desconfiança será, possivelmente, quanto às intenções dos magotes de estrangeiros que visitam Luanda (eu desconfio que a intenção é virem ver o CAN 2010, mas enganaram-se na data...). A altivez é aquele inchaço na barriga de quem tem uma profissão que confere um pequeno poder. Lembro-me de um funcionário me ter interpelado com um sorriso simpático nos lábios... o que pergunta se transportamos notas na bagagem. Foi uma surpresa ter-me encaminhado para a fila seguinte sem me mostrar a entrada da sala, mas o magote de gente que se seguia a mim e o atraso no voo talvez fossem a explicação.

Os tugas são fáceis de identificar, não apenas por serem brancos, mas por terem frequentemente uma atitude propícia à caricatura. É banalíssimo se um passageiro tuga, chegado à entrada do terminal de partidas e informado que a fila para Lisboa é a que tem 35 metros e não a que tem 30, reclamar (também não é de espantar se a reclamação for em português vernáculo). Na verdade, mesmo que fosse a fila mais curta, reclamaria por existir fila, e se não existisse fila reclamaria por o voo estar atrasado. Depois, Portugal é provavelmente o único país que é membro da UE há 20 anos e que ainda tem gente com cabelo à João Pinto (o lateral direito), com sorrisos corados de quem bebeu tinto ao pequeno-almoço, e com camisas abertas a mostrar os pêlos do peito e o fio de ouro. E com sentido de humor, imagine-se! Pronto, é o sentido de humor «Malucos do Riso», em que cada um tenta ser o mais engraçado do grupo (até porque frequentemente viajam com colegas da empresa), com piadas do género «Ó Dabide Bítor, olha que tu num vais no abion». E o objectivo não é apenas receber o troféu das mãos dos colegas, mas também dos restantes compatriotas, mesmo daqueles que não estão para aí virados.

No avião, este tipo de portugueses (da espécie «lusos boçalis») destaca-se pela sonoplastia acessória, típica da mastigação de boca aberta, e por ser incapaz de fazer as pernas caberem dentro do lugar que lhes está destinado, mesmo que tenham de empernar com o vizinho do lado - EU, que por sinal não gosto de empernar com gajos, mas quem me manda ser esquisito?... - como que a passar a mensagem «sou tão macho, tão macho, que eles mal me cabem aqui no meio». No caso concreto do espécime que calhou ir ao meu lado na viagem de 22/12, acresce ainda um mal chamado «bichos carpinteiros no olho do cu». Ainda lhe perguntei antes de levantarmos voo se fazia questão de ir à janela ou se se importava de trocar de lugar com a Paula (que ia na coxia), e embora tenha alegado que aquele era o único lugar em que não enjoava, levantou-se SEIS vezes durante a viagem, para ir na palheta com o amigo. Perdeu uma oportunidade que o comum mortal não tem todos os dias, para guardar na memória imagens da Coordilheira do Atlas como esta:


Chamo a atenção para a neve presente apenas nas encostas viradas a norte.

O comportamento dos passageiros angolanos da TAP é completamente diferente. Exemplar. Low profile é a imagem de marca. Talvez porque apenas uma fatia da população com um nível sócio-económico acima da média tem acesso a viagens de avião, enquanto que, de entre os portugueses, tanto viaja quem tomou chá em pequeno, como um labrego qualquer... Vá, venham daí as pedras pelo meu comentário.

O 4º grupo a marcar presença no aeroporto é um outsider: os "agilizadores". Deambulam pela área livre do terminal de partidas - e, quando os funcionários fecham os olhos, também pela área restrita a passageiros e funcionários - analisando as filas do check-in e abordando quem parece mais impaciente com a espera (e também quem não parece, o que interessa é atirar o barro à parede) com a proposta de "agilizar" o processo, ou seja, passar o passageiro para a frente da fila a troco de uma gasosa. Algo perfeitamente inútil: o avião não parte antes da fila ser completamente absorvida pelos balcões, e quanto mais cedo passarmos pelos crivos sucessivos, mais depressa vamos esperar na sala de embarque.

À chegada a Luanda, soube que o CAN2010 começará já no dia 11 de Janeiro, ou seja, daqui a exactamente um ano. O novo aeroporto, a sudeste da capital, está já a ser construído e dava jeito que estivesse pronto na altura do campeonato. Tal com os hóteis que estão em construção e, já agora, os quatro novos estádios...

1 comentário:

m.Jo. disse...

Gosto muito do seu blog. Por isso indiquei para o Prêmio Dardos.
Parabéns!

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