sábado, 21 de junho de 2008

Multimedia


«And now for something completly different».

Se, até agora, a cor deste estaminé resumia-se ao preto, vermelho e amarelo da bandeira de Angola (agora em tons ligeiramente desvirtuados mas que não ferem tanto a vista...), chegou a altura de vos presentear com imagens.

Antes mesmo de colocarem os cintos não se esqueçam de trancar o carro! Carreguem no play do "cantante", ponham-no bem alto...










... e comecemos então a visita guiada.



Eu tinha avisado que a distância entre os carros varia entre muito pouco e quase nada, mas não se assustem. Está (quase) tudo controlado.






Maternidade Lucrécia Paim, ex Maternidade da Sagrada Família. Está a ser expandida com a construção de uma torre, mas o edifício que nos interessa é este, porque foi exactamente aqui que a Paula nasceu.










Do outro lado da rua, a Igreja da Sagrada Família.






Largo Rainha N'Jinga, com o Mercado (coberto de publicidade), o Edifício da Cuca e a mui turística estátua da Rainha. Vêem aquele arranha-céus inacabado lá ao fundo à direita? É conhecido como o Prédio da Lagoa porque, já depois de erguido, concluiu-se que estava sobre... isso mesmo, era óbvio, não era? Como podem observar pela roupa pendurada, apesar das condições, é habitado.






A estátua da Rainha N'Jinga.














Noutro Largo (1º de Maio), outra estátua, esta de Agostinho Neto.






Continuando no mesmo tema, eis o Monumento às Heroínas Angolanas (Lucrécia Paim, Deolinda Rodrigues, Engrácia Santos, Teresa Afonso e Irene Cohen).






No extremo nordeste da Avenida Marginal, o edifício do Porto de Luanda (e, já agora, uma amostra do parque automóvel da cidade).






Mais a oeste, na mesma avenida, o edifício do Banco de Angola.






Palácio Dona Ana Joaquina.






Hospital Josina Machel - Maria Pia.






Os elevadores do 1º prédio onde morámos. Não, tudo bem, vamos a pé...






Só falta a bola de ferro no tornozelo, mas pelo menos assim estávamos (um pouco) mais seguros.






A rua onde morámos (Presidente Marien Ngouabi, ex Rua António Barroso), na Maianga.






A vista que tinhamos à hora do pequeno-almoço (6:30).






Curiosamente, a vista das traseiras consegue ter mais motivos de interesse do que a da frente da rua (ignorando o musseque lá atrás, claro).






Do mesmo sítio vê-se o Mausoléu Agostinho Neto.






E ainda a Ilha de Luanda (que a intervenção humana transformou numa península).






Na entrada da Ilha, o último monumento desta jornada, em homenagem à mulher peixeira.






Por falar na mulher peixeira...








Frutas e legumes, galinhas, panos, bebidas... Isto é só uma amostra, a lista é infindável.




E os números de equilibrismo com o puto de meses embrulhado nas costas, hein? Vá lá, desta vez foi só um alguidar com fruta, às vezes são botijas de gás.






A vista da casa onde estamos agora não tem grandes motivos de interesse (no Aerograma do Afonso podem ver o Hotel Katekero em 1970 e no que se tornou actualmente). Mas, felizmente, parece que conseguimos travar a porta de entrada destas duas espécies... :D



(desenhos de Henrique Arede)

E pronto, esperamos que tenham gostado das fotos.

Já acabaram de ouvir o Duo Ouro Negro? Podemos dar-vos mais música? Então cá vai um estilo que parece ter bastante saída, a balada-tipo-canção-do-bandido: eu sou fiel baby, não ligues ao que esses intriguistas dizem, só querem destruir o nosso amor, blá-blá-blá. Tendências poligâmicas do macho africano? Talvez, mas o Anselmo Ralph tem estilo e merece ser ouvido no hemisfério Norte, por isso cá vai uma ajudinha. De um blog em Luanda para um supermercado que nós conhecemos em Queluz vai ser um pulinho. ;)







Para acabar, convidamo-vos a verem o video dos Buraka Som Sistema, filmado em Luanda, e no qual podem ver algumas imagens da cidade. Electrizante é pouco. Disfrutem!




quarta-feira, 11 de junho de 2008

Ambiente


> A (de algo-que-nos-tem-feito-bastante-falta-nos-últimos-tempos)

Perguntava-me há dias o nosso colega o que deve trazer na bagagem, quando se juntar a nós no próximo fim-de-semana. Pois bem, cá vai a resposta: traz alforges com água! Traz um bidom! Traz a piscina do Lopes! Traz canos novos para a Ingombota, que os destas ruas devem ter dado o p... mestre! Então não é que, contra o que é habitual, agora que estamos numa altitude mais próxima de zero, é que a sacana da água se lembra de falhar dia-sim-dia-sim? Nos últimos dez dias nunca tivemos água nas torneiras por mais de 24 horas seguidas, o que é digno das emissões da RTP no início dos anos 80 - «pedimos desculpa por este programa, a nossa interrupção segue dentro de momentos». Ainda por cima, como nos primeiros dias o urso (eu) chegava a casa e, em vez de aproveitar enquanto a água ainda corria, ia enviar uns ficheiros para um cliente (porque a net caseira é mais rápida do que a da empresa), quando chegava à banheira, nas torneiras já só havia ar.

> C (de 5 de Setembro)
Já se sabia o mês, mas todo o país aguardava ansioso pela data exacta das eleições em Angola. Pessoalmente, só estávamos à espera de saber se seriam no início ou no fim de Setembro, para marcarmos as férias, e ao que parece não seremos os únicos. Na política e no futebol, nunca se sabe como reagem os adeptos que vêem a equipa rival marcar mais golos. Pelo sim pelo não, quem não liga a este jogo não quer estar perto do estádio.

> D (de Dinheiro)

Já o tinha referido há uns tempos, mas volto a dizer: o Kwanza não é nada prático. Há umas semanas dei por mim a pensar que, se fosse substituído por um "novo Kwanza", numa proporção de 1 para 100, Angola ficaria com uma divisa mais compatível com o custo de vida, e também com o principal termo de comparação, o dólar. Qual não foi o nosso espanto quando descobrimos que já foi feito algo do género por mais do que uma vez, e não foi assim há tanto tempo!

O problema não é só o baixo valor da moeda, é principalmente o das notas emitidas (as maiores que conhecemos são as de 2000). Um destes dias, aguardávamos pacientemente a nossa vez de pagar as compras do supermercado, e vimos que a família à nossa frente tinha uma despesa de cerca de 40000 Kz. Eis que a matriarca saca de um maço de notas de 2000 e de 200, e começa a entregá-las à moça da caixa que, pela expressão facial, ficou com a cabeça em água perante tamanha dose de papel. Para entenderem melhor, imaginem que vão ao supermercado e pagam uma despesa de 400€ com notas de 20€ e moedas de 2€... Imaginem também uma caixa multibanco cheia de notas "pequenas" e calculem em quanto tempo fica vazia.

> E (de Ecologia, Economia, Energia, etc)
Se há situações - trabalho, trânsito, pessoal que usa expedientes para obter uns rendimentos extra, ou que arranja desculpas para adiar os seus compromissos - em que encontramos vícios semelhantes em Portugal e Angola (com a ressalva de que os maus vícios estão mais vincados neste quadrado do que aí no rectângulo), por outro lado há aspectos em que não parece que estamos no mesmo planeta.

Em Portugal, à semelhança de outros países não produtores de petróleo, bastou um mês e uma subida brutal no preço dos combustíveis para o dia-a-dia ficar virado do avesso. A indignação dos particulares e o boicote às principais gasolineiras são até secundários, quando comparados com a greve de camionistas que pôs em causa a distribuição de combustível e alimentos. Desta vez, nem o futebol faz o povo esquecer a crise. Começamos a duvidar se, quando voltarmos ao país de onde saímos há escassa meia-dúzia de semanas, o vamos reconhecer. E, por um lado, ainda bem; a escalada dos preços é dura, mas a mole humana parece que só aprende a deixar de ser burra e esbanjadora quando tem "dores no bolso" (e alguns nem isso, veja-se o caso do pessoal que andou a fazer rateres como forma de protesto).

Num país em que a gasolina custa 4 vezes menos, a preocupação com o consumo e as emissões poluentes é ZERO! O parque automóvel é dominado por furgões com vinte anos e jipes de grande porte e alta cilindrada que, num pára-arranca infernal, gastam facilmente 20 litros por 100 Km. As falhas de energia são compensadas por um número indeterminado geradores que funcionam - adivinhem - a gasóleo. Já contávamos que aqui não existissem conceitos como separar lixo, apagar as luzes durante o dia, utilizar lâmpadas economizadoras ou pilhas recarregáveis, mas quando há dias demorámos 15 minutos para percorrer 200 metros, pesou-nos na consciência o mal que estávamos a fazer ao planeta. E, apesar de o sentimento de culpa nos ter feito desligar o carro até que a fila se arrastasse (o que ainda demorou), não pudemos deixar de pensar que aquilo de pouco servia, quando à nossa volta havia dezenas de motores a queimar combustível para nada. É bom saber que já não vai ser preciso esperar muitos anos nem ter muito dinheiro para ter um meio de transporte destes (basta uma garagem para o carregar à noite e 17000€ para o ir buscar ao Reino Unido ou à Suíça). Quando voltarmos, prometemos redimir-nos dos pecados que estamos a ser obrigados a cometer.

> F (de fins-de-semana e de feriados)
Primeira nota informativa: feriados que calhem ao domingo (o que aconteceu em dois fins-de-semana seguidos, recentemente) são gozados à segunda-feira. Antes que comecem os comentários, fiquem também a saber que a semana de trabalho em Angola é de 44 horas.

Ao fim-de-semana Luanda é outra. A operação começa na 6ª à tarde, quando se formam filas monstruosas para levantar dinheiro (antes que esgote, o que pelos motivos apontados atrás, não é difícil). De 6ª à noite até que o sol se põe no domingo, há decibeis no ar, Cucas nas gargantas (há dias vimos um pequeno grupo empurrando dois carrinhos do Jumbo com exactamente 28 paletes, ie 672 latas, ie 224 litros!), menos engarrafamentos, e menos pessoal a furar as filas e a pisar traços contínuos. Ora, se há menos prevaricadores, o critério da operação stop é quem-tem-cara-de-estar-com-a-carteira-cheia.

> F outra vez (de Fotos)
É já no próximo post, eu prometo...