segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Fora de Luanda II: Muxima


A passagem pela Cabala, além de servir para "desenjoar" de Luanda, foi também um ensaio para um passeio mais longo, até à Muxima.

É inevitável fazermos comparações com outros cenários que já tinhamos visto em Angola e com os que se conhecem de Portugal. Os embondeiros são os eternos companheiros de caminho ao longo de cento e poucos quilómetros, mais de metade percorridos em alcatrão. Alguns serão mais majestosos, mas mentiria se dissesse que a paisagem é diversificada. O país é grande e nós (ainda) estamos mal habituados...


Ao chegar ao destino, somos surpreendidos por uma característica herdada dos tempos coloniais: a fé na religião católica. Não a "fé comercial" de Fátima, com lojas a vender santos e velas a cada esquina, mas a fé pura, que busca a paz de espírito e que só por isso já merece a nossa admiração. A igreja torna-se pequena para acolher todos os que querem assistir à missa, mas pequenos grupos de amigos nas imediações formam rodas dando as mãos, e rezam em coro com os que conseguiram um lugar dentro de portas.



A paz das tardes de domingo não é exclusiva de quem é crente. A sombra da igreja na margem esquerda do Kwanza junta todas as famílias e amigos. Dois deles trazem um tambor e capim, ao qual ateiam fogo. Na nossa ignorância, perguntamos porquê, e logo nos explicam que estão a afiná-lo. Pedimos autorização para os fotografar, o que até os satisfaz. Ao contrário do que aconteceria em Luanda, não nos cobram pela fotografia, apenas pedem para a ver no ecrã.



Completamos uma volta à pequena igreja. As crianças mais pequenas usam as escadas da porta principal como escorrega. Deliram quando percebem que são o centro das atenções das máquinas fotográficas dos visitantes.


A Muxima divide-se entre esta zona de lazer (que abrange o forte, a praça e a igreja deixados pelos portugueses), o pequeno empreendimento turístico (com pré-fabricados de telhado azul), e a zona residencial. Esta reserva mais uma surpresa: a disposição das casas, com espaços razoáveis entre si, e organizadas... em traçado ortogonal! Já para não falar no facto de não serem feitas daqueles tijolos cinzentos completamente anónimos, que inundam os musseques da capital.



Mas as surpresas da Muxima só acabaram uns metros mais à frente, onde um grupo de crianças brincava com os seus carros, feitos com imaginação e... latas de salsicha. Três jipes (dois Toyotas, naturalmente, pois são os mais desejados em Angola) e um camião Unimog. Mas este, dizem-nos, é da polícia e não do exército. De exército deve o povo estar cansado, calculamos nós.


1 comentário:

Afonso Loureiro disse...

Estava a ver que o blog tinha morrido. Afinal só estava à espera do novo computador...