Uma das características dos gangs da Amadora, de Massamá, do Cacém, do Bronx ou do raio que os parta ou da pata que os pôs, é borrarem as ruas com os seus tags, que acham muito mais cool do que os dos gangs rivais. A ideia é fazerem aquilo que os canídeos fazem com a sua tinta de urina e a sua lata de spray incorporada: demarcação de território. E não pretendo ofender os nossos melhores amigos.
Confesso que os tags me irritam muito menos em Luanda do que em Lisboa. Primeiro, existe uma certa inocência nas assinaturas, que em vez de um gatafunho sofisticadamente indecifrável, é um nome fácil de entender. Acabo por me conseguir identificar um pouco com estes, porque eu também nunca consegui inventar uma rubrica tipo mosca-esmagada.
O outro aspecto, muito mais importante, é o que se pode e o que não se pode pintar. Em Portugal, qualquer edifício de habitação, grande parte dos edifícios de empresas (estou a lembrar-me de bancos na baixa) ou até mesmo alguns edifícios históricos (como as Portas de Benfica), são candidatos a levar um borrão na fachada, porque não estão vigiados durante a noite. Em Angola... que nem lhes passe pela menina dos olhos! Até o nosso pequeno prédio tem seguranças 24 horas por dia, armados com AK47, quanto mais uma agência de um banco ou um edifício público. Pintam nas paredes "sem dono", e já gozam. Correndo o risco de ser mal interpretado, sou obrigado a saudar as “democracias musculadas”; o respeitinho é logo outro! Aliás, é sintomático que, enquanto em Portugal se passou um Verão quente de carjaquim e assaltos a bombas de gasolina e outros estabelecimentos comerciais, em Luanda vemos lojas a abrirem sem grades nas montras, como era costume noutras eras. Inversão de tendências?
E agora, para algo completamente inesperado, relacionado com escritos nos muros...
Pois, não sei o que vos diga. Tanta gente a morrer porque a indústria farmacêutica não consegue (ou não – cof-cof, aham – quer conseguir encontrar) a cura para a SIDA, e afinal a "solução" está num muro no Futungo de Belas.
3 comentários:
A ingenuidade das assinaturas não deixa de transmitir o ar degradado que os grafitti emprestam às coisas...
Lembro-me do Bairro Alto que, desde há uns anos, passou a ser tela de todo o mânfio que anda armado de lata e marcador. Há lá paredes que se parecem com arte abstracta...
Inversão de tendências ou ingenuidade dos comerciantes das lojas sem gradeamento?
Afinal, se há segurança, para quê essa vigilancia permanente com metralhadoras???
Quanto à última foto do post, a indústria farmaceutica que se cuide... :)
Beijinhos
tia mica
A vigilância permanente com metralhadoras, quer por parte da polícia quer por parte da Prosegur e Cª, é um misto de prevenção com demonstração de força (não necessariamente por esta ordem de prioridades...). O que é certo é que, onde há metralhadoras, a ladroagem acagaça-se.
Exactamente o contrário do que se passa num certo "Estado de Direito", onde um polícia em perseguição de um assaltante tem esperar que ele dispare primeiro, tem de pagar o arranjo do carro e da farda, e tem de preencher resmas de papelada, para no fim o ladrão ser posto em liberdade com Termo de Identidade e Residência porque «não há perigo de reincidência ou de destruição de provas».
Beijinhos ;)
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