quarta-feira, 2 de julho de 2008

Obras


Costuma-se dizer que não há fome que não dê em fartura. Depois do episódio em que fomos "aCtuados" por estarmos em "transgreNsão" (pelo menos segundo os documentos que nos foram emitidos), não tivémos de esperar muito mais até nos chegarem à mão os passaportes. Sinto-me inchado. Em vez de um "vulgar" visto de trabalho, temos os mui nobres Vistos de Reconstrução Nacional. Não, isto não quer dizer que vamos andar a manobrar máquinas da Odebrecht ou de uma das construtoras chinesas que aparecem a cada canto e esquina. Muito pelo contrário, este é um visto VIP, com "status". Só lhe falta o símbolo da Mercedes, ou algo do género.

Angola precisava desta reconstrução. Faltavam - e ainda faltam, claro - habitações e vias de comunicação. No centro não há muito espaço para mais tectos, por isso os novos espalham-se pelos arredores. Os transportes ferroviários têm ganho expressão, mas algo timidamente, e provavelmente o panorama só mudará no dia em que se aumentar a gasolina para 100 Kwanzas por litro (a população era capaz de ficar "chateadinha", mas uma medida deste género faria maravilhas no trânsito...). Até lá, há que reparar os bocados de estrada à volta dos buracos da capital.

Confesso que fiquei surpreendido com a rapidez com que se actuou (sim, queria empregar o verbo «actuar», não o verbo «autuar»...) no caso do buraco da Rua do Laboratório de Engenharia. Passavamos por ele diariamente, e foi com uma rapidez impressionante que o vimos crescer desde a meninice de um buraco em que se passa em 1ª para não lixar uma jante, até um buraco adulto capaz de engolir um carro que não o contornasse, com respeito. No dia em que se fez homem, o "nosso" buraco foi imediatamente visitado por uma equipa, que precisou de pouco mais de uma jornada de trabalho até restabelecer a normalidade. Mas, uns 100 metros ao lado, outro pedaço de chão foi abatendo com o peso dos carros, e lá voltou a equipa. Conclusão: as reparações são rápidas, o problema é que há muitas para fazer.

Mas nem tudo me merece elogios, Senhores. É verdade que há centenas de ruas de Luanda que merecem um novo tapete de alcatrão. E ainda bem que repararam nisso. Ora bem, eu deixava uma sugestão para o futuro: que tal não começarem por esburacar as que ainda estão mais ou menos boas? Hein? Até era fixe, né? Eu sei que engenharia de estradas e buracos não é a minha área de especialização, mas as minhas costas dizem-me que os locais prioritários não eram bem aqueles... No entanto, se não concordam com a observação não me levem a mal, digam-me apenas «pshcala-te», e eu falo do tempo. Tem estado porreiro, nem frio nem calor.

Sucede, apenas por acaso, que as ruas escolhidas para a intervenção têm, habitualmente, um trânsito enervante. Com filas de trânsito suprimidas, bermas recortadas, candongueiros a ultrapassar pela contramão (espera, isto é todos os dias, não apenas quando há obras), o trânsito evoluiu para a condição de infernal. Entendo por infernal demorar mais de hora e meia para percorrer 4 quilómetros.

Cereja no topo do bolo: para não se cortar completamente a circulação (o que só seria viável ao fim-de-semana), optou-se por não fazer circular as máquinas durante o dia. Resultados: primeiro, as obras duram o dobro do tempo; segundo, o Afonso não dorme (e não será certamente o único na rua). Mesmo durante a noite, a equipa não é muito extensa, e temo que as ferramentas que deram aos chineses sejam as colheres com que eles comem a taça de arroz que lhes é servida ao fim do dia. Ou pauzinhos... Ok, não tenho especial admiração pela eficácia do trabalho do país dos maiores copiões do mundo.

Na verdade, se Angola pudesse levar a cabo a reconstrução nacional sem recorrer a mão-de-obra estrangeira, fá-lo-ia. No caso de técnicos superiores, talvez seja possível daqui a alguns anos, já que existe vontade de absorver know-how. O angolano não é nada parvo, e a classe que teve acesso a instrução tem visão a longo prazo. O aborrecido é terem necessitado de importar trabalhadores braçais quando existe tanta malta nova com saúde, cujo "emprego suado" é rodear um carro de um branco quando este se prepara para sair pela manhã, a pedir (perdão, a EXIGIR) dinheiro porque o carro foi controlado durante a noite. Beeem... comparando com a cara-de-pau destes, os "abana-braços" de Portugal são uns meninos de coro! Os que me ajudam a não amarrotar os carros dos vizinhos com a banheira, ainda merecem algum crédito; agora, a malta que me aborda quando me preparo para abandonar o local são o quê, os "desarrumadores"? «Logo não pões aqui o carro, que esta rua é nossa», avisaram-me. Ah é deles? Curioso, não os vi de picareta na mão a contribuir para as obras... Sou mesmo distraído.

Mais uma sugestão para os Senhores: agarrem nesta rapaziada que tem bom couro, uma enxada a cada um, e um batatal para se entreterem e fazerem algo para o bem de todos (a começar pelo deles). Vontade não vos falta? Pois, imagino.

1 comentário:

Lopesco disse...

Obra-se bem! Continua! Abreijos!