sábado, 30 de maio de 2009

Um passado quê?!


Recentemente a imprensa anunciou uma notícia positiva para a TAAG: os manuais dos aviões estão prestes a chegar e, com isto, em breve será retirada da lista negra das companhias aéreas, o que a permitirá voltar a operar directamente para a Europa. Imagino o que estão a pensar: «O quê, aqueles gajos não tinham os manuais dos próprios aviões?». Pois é, alguém os perdeu... Hilariante, não?

Durante estes dois anos, as ligações de Luanda para Lisboa e Paris foram realizadas nos Boeing 747-400 da South Africa Airways, pilotados por comandantes sul-africanos e com tripulações mista das duas companhias. Como não têm caído, decidimos experimentar. Quem não experimenta, não tem grande autoridade moral para fazer avaliações.

A primeira constatação é que o esquema de venda de bilhetes continua o mesmo. Não basta pagar a viagem, é obrigatório confirmar a intenção de usufruir da mesma 72 horas antes da partida, caso contrário a companhia considera que o cliente desistiu e vende o lugar a quem aparecer. Se, na hora de embarcar, ambos reclamarem os seus direitos, o primeiro comprador fica em terra. Ora aí está a prestação de serviços em Angola no seu melhor. Qualquer empresa europeia, com a concorrência a nivelar a qualidade por cima, consideraria que à primeira escandaleira de overbooking teria a imagem maculada. Mas, pelos vistos, por cá não é preciso haver grandes preocupações em fidelizar clientes.

A bordo, continuamos a não resistir a fazer comparações (se não era suposto, desculpem qualquer coisinha). O facto de metade da tripulação ser sul-africana não serve de justificação para que só saibam dizer duas palavras em português, «frango» e «pêche». Que diabo, numa ligação entre dois países lusófonos não devia ser necessário os passageiros bilingues servirem de tradutores! Uma ida ao WC evidencia um pouco mais a negligência com que os clientes da companhia são tratados: em quatro viagens (eu e a Paula viajámos em dias diferentes), por duas vezes não havia sabonete e noutra não havia água. As cadeiras desengonçadas e as avarias no sistema de video são os aspectos mais irrelevantes.

Depois, há os episódios que não acontecem todos os dias, que podem acontecer em qualquer companhia, mas que dependendo da frequência e do profissionalismo (ou da falta dele) podem arrasar ainda mais uma imagem. Na véspera de regressar a Angola, fui avisado por telefone que a partida seria adiada das 11 para as 19, mas que era conveniente estar no aeroporto quatro horas antes. Como a chamada não tinha identificação e já ouvi muitos rumores sobre gasosas para passageiros de última hora ocuparem o lugar de passageiros confirmados, pedi o nome à funcionária, recebendo como resposta o som inequívoco de um telefone desligado na cara. Lá confirmei no site da ANA que não era peta, mas no dia da viagem apanhei uma seca até às 21, hora a que o avião realmente partiu. Quando soube que, em certa viagem, um compatriota esteve 4 horas à espera que fosse resolvida uma fuga de gasolina, sem que os passageiros fossem retirados do avião, concluí que uma coisa é falta de profissionalismo, outra é irresponsabilidade, e decidi que a experiência TAAG / SAA, da minha parte, não será repetida, e se não aconteceu nenhum acidente até agora foi porque não calhou. Por alguma razão o preço é inferior ao da TAP. Quem quer qualidade, paga-a.

Mas, para baralhar esta conclusão de que o preço é directamente proporcional à qualidade, semanas depois deparámo-nos com uma nova manchete da imprensa nacional, que espero que estimule a vossa galhofa:

«O coordenador adjunto da comissão de refundação da TAAG, Rui Carreira, anunciou, durante uma conferência de imprensa, que a companhia de bandeira vai incrementar em 50 por cento o preço dos bilhetes de passagem dos vôos nacionais e internacionais, no quadro das medidas de relançamento da transportadora e que visa retirá-la da situação deficitária em que se encontra.

[...]

O bilhete para a classe económica de ida e volta para Lisboa, que custa actualmente mil 408 dólares, irá subir para dois mil 112 dólares.

[...]

A comissão concluiu que a TAAG praticava tarifas mais baratas em comparação com outras companhias concorrentes (rotas internacionais) que fazem o mesmo trajecto. Rui Carreira esclareceu, no entanto, que isto será feito no quadro de uma gestão dinâmica.

“Este aumento não será feito de forma linear, nalguns casos os bilhetes poderão ser mais baratos pois, quanto mais próximo da data da viagem for comprado mais caro será o bilhete”, frisou o piloto que aconselha a uma planificação atempada das viagens.
»

A TAP agradece. A sério! A transportadora portuguesa tem viagens a partir de 1485 €, 2000 USD. E depois da viagem estar paga não é preciso telefonar para não perdermos o lugar. E há sempre água e sabão nas casas-de-banho. E as cadeiras não estão desengonçadas. E o sistema de video funciona. E dão-nos a ementa no início da viagem.

Mas continuaram a ler?

«Esta é só uma das muitas medidas que a companhia vai implementar para concretizar o lema “TAAG, um passado que nos orgulha, um futuro brilhante”.»

Perdão?! Um passado quê?! Então e os manuais, e a black-list? Ai, a minha barriga...